21.3.07

Tem logo é uma semana...

Acho que essa tal de Tati Bernardi é o outro eu... Acho que eu devo acordar no meio da noite... numa transe sonâmbula e escrever esses textos... Assinar o nome de Tati e no dia seguinte me surpreender, como é que ela escreve isso, tão assim parecido???

"Eu nunca vou entender

Mais um domingo que você me liga. Igual faz a uns quatro ou cinco (na verdade não faz tanto tempo assim, tem só um ano e tralálá) anos. Você beija a sua mãe depois do churrasco, dá um oi carinhoso e finalmente sem culpa para a sua ex mulher (pode até ser... vai saber... além de num entender, tem muita coisa que eu não sei...) , deixa as meninas em casa (bem que dona Cida disse... Mas ela só falou de uma filha...) vai , cheira sua camiseta pra ver se a coisa tá muito feia e descobre que sua vida está prestes a ficar vazia: chegou a hora de me ligar.

Você não sabe ao certo o que vê em mim, mas também não sabe ao certo o que não vê. Você sabe que pode comer uma mulher mais gostosa do que eu, afinal, você é rico (erro de cálculo... se tem um trem que vc não é, é rico) e pra piorar ainda tem uma banda de rock. Mas por alguma razão prefere a gostosa garantida, aquela que ainda ri das suas piadas. Mesmo sendo as mesmas piadas há quatro ou cinco anos.

Aí você me liga, com aquele ar descompromissado e meigo de quem só quer tomar um café com uma velha amiga. A velha amiga que você come há quatro ou cinco anos, mesmo nunca tendo tomado sequer um café com ela. Eu não faço a menor idéia do que vejo em você, mas também não faço idéia do que não vejo. Eu posso dar para um cara mais gostoso, como de fato já fiz milhares de vezes. Mas por alguma razão prefiro suas piadas velhas e seu jeito homem de ser. Você é um idiota, uma criança, um bobo alegre, um deslumbrado, um chato. Mas você é homem, você é pai, você é chefe, você segura o tranco da vida. E talvez seja só por isso que eu ainda te aguente: você pode ter todos os defeitos do mundo, mais ainda é melhor do que o resto do mundo.

Aí a gente, sem saber ao certo o que está fazendo ali, mas sem lugar melhor para estar, acaba pulando o café que nunca existiu e indo direto ao assunto. O mesmo assunto de quatro ou cinco anos que, assim como as suas piadas, nunca cansam ou enjoam.

E aí acontece um fenômeno muito estranho comigo. Mesmo quando não é bom, mesmo quando cansado e egoísta você não espera por mim e vira pro lado pra dormir ou pra voltar à sua bolha egocêntrica de tudo o que é seu, eu sempre me apaixono por você. Todas as vezes que te vi, nesses últimos quatro ou cinco anos, eu sempre me apaixonei por você. Eu sempre estive pronta pra começar algo, pra tomar um café de verdade, pra passear de mãos dadas no claro, pra poder te apresentar ao sol sem receber mensagens de gente louca ou olhares curiosos, pra escutar uma piada nova. E você sempre ignorou esse fato, seguindo seu caminho que sempre é interrompido pelo vazio da sua camiseta fedendo a churrasco. Eu nunca vou entender. Eu nunca vou saber porque a vida é assim. Eu nunca vou entender porque a gente continua voltando pra casa querendo ser de alguém, ainda que a gente esteja um ao lado do outro. Eu nunca vou entender porque você é exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que você quer, mas as nossas exatidões não funcionam numa conta de mais.

Eu só sei que agora eu vou tomar um banho, vou esfregar a bucha o mais forte possível na minha pele e vou me dizer pela milésima vez que essa foi a última vez que vou ficar sem entender nada. Mas aí, daqui uns dias, igual faz há uns cinco ou seis anos, você vai me ligar. Querendo tomar aquele café de sempre, querendo me esconder como sempre, querendo me amar só enquanto você pode vulgarizar esse amor. Me querendo no escuro. E eu vou topar. Não porque seja uma idiota, não me dê valor ou não tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque você me lembra o mistério da vida. Simplesmente porque é assim que a gente faz com a nossa própria existência: não entendemos nada, mas continuamos insistindo. "

Num é que é sempre assim mesmo???

Bjk

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